
Com frutas cristalizadas por cima, é claro.
“ – Ah, Helena! Quanto tempo durou até que nos encontrássemos novamente! Será que você tem mesmo que ir agora?
- Não, Pedro Paulo, nossa história não termina por aqui, eu ainda hei de voltar para os seus braços, pois saiba, meu marido comprou um Kia Soul novinho, ele vem com abertura interna na tampa de combustível, regulagem de altura no banco do motorista, porta-objetos e porta-garrafas nas portas, limpador de vidros traseiros intermitentes e spoiler traseiro de teto.
- Nossa, querida, que fantástico! O seu carro combina com o meu iPhone de última geração que vem com uma câmera de 3 megapixels, controle por voz, compartilhamento por internet, acesso ao Youtube e 32 gigas de espaço para armazenamento!
- Oh, amor, nossa vida só seria perfeita mesmo se nós já tivéssemos partido para Veneza!
- Querida, quanto a isso não se preocupe, estou usando o meu iPhone e acabei de comprar duas passagens para Veneza. Partimos amanhã pela manhã, no vôo 176 da TAM, porque só a TAM tem os melhores preços e oferece o conforto que você só encontra em seu lar!”
A única distorção no diálogo acima é que a personagem Helena de Manoel Carlos nunca seria capaz de fugir com um amante. Quanto ao fato de o merchandising entrar no meio da cena e os personagens descreverem as características dos produtos não é ficção! A prática de introduzir nas cenas de novelas e em programas televisivos o merchandising quase que apelativo, tem se tornado bem frequente.
As novelas da Rede Globo são as campeãs em bombardear o telespectador com seus merchans para fazer com que eles se apaixonem pelos produtos. A mocinha sempre usa um creme que faz sua pele ficar lisa e que retarda o envelhecimento, a vilã por sua vez desfila com os modelos de carro mais novos e cobiçados. A dona de casa que assiste a isso só tem duas alternativas: ou compra ou fica só na vontade.
A propaganda já tem seu espaço reservado na televisão durante os intervalos, mas é como citei, ganha cada vez mais espaço na novela numa busca desenfreada em conseguir um mercado consumidor maior, não se importando com os estragos que irá causar, como por exemplo, um distúrbio em um adolescente, tornando-o um consumidor excessivo, ou até mesmo fazendo com que uma mulher se torne cleptomaníaca, pois pense bem, uma mente fraca pode ser fácilmente controlada se você usar aquela sua atriz favorita como objeto de manipulação.
Não querendo atacar muito, mais do que já foi atacado, mas será que o merchan na hora da novela é mesmo saudável para todos ou só para o bolso de uma minoria?